terça-feira, 3 de setembro de 2013

O tão temido resultado

Tinha sido informada pela médica de que o resultado da anatomia patológica ao tumor estaria pronto duas ou três semanas depois da cirurgia. Tinha, por isso, esse tempo para estar tranquila e para recuperar da cirurgia. E assim foi. Passados dois dias da cirurgia, já estava em casa e passados uns quatro ou cinco dias já eu andava a fazer a minha vida mais ou menos normal, embora ainda tivesse alguns cuidados especiais com o pescoço e com os maxilares e precisasse de descansar muito.

No dia 12 de junho de 2006, num dia quente e já com cheiro a marchas populares, a manjericos e a sardinha assada, tinha ficado de passar pela clínica para a médica ver como estava a recuperação e para tirar os pontos. Por acaso e como nem sequer me passava pela cabeça que ia saber nesse dia o resultado da anatomia patológica, fui sozinha. Quando ali entrei notei algo de estranho no ar. Como já referi, a médica não era propriamente uma simpatia e nesse dia, então, estava estranhíssima. No final, disse-me que já tinha o resultado da anatomia patológica com um ar muito sério e que o tumor não era benigno. Friamente e de rajada. Eu fiquei sem palavras. Quando recuperei, perguntei-lhe se era muito grave, se havia probabilidades de cura, o que iria fazer a seguir. A médica, ao invés de me dar algum alento e alguma esperança, ainda que o cenário não fosse propriamente idílico, disse-me que não sabia, que iria ter de fazer exames para saber se havia metástases, mas ela não sabia. Possivelmente, radioterapia ou uma nova cirurgia. Dependia tudo da existência de metástases ou não.

Na altura fiquei meio em choque e nem pensei muito nisso, hoje, olhando para trás, acho completamente indecente a forma como me deu a notícia. A profissão de médico é a profissão que mais admiro, já conheci e conheço médicos exemplares e especiais, mas esta médica em particular deixava muito a desejar na parte humana. Felizmente (a única parte boa do dia) e como nessa altura se dedicava quase só à cirurgia estética (isto é capaz de explicar alguma coisa) encaminhou-me para uma médica com alguma experiência neste tipo de tumores do Hospital de Santa Maria (cenas dos próximos capítulos).

Mas a verdade é que, independentemente disso, e enquanto as pessoas à minha volta pensavam nas férias que aí vinham, planeavam casamentos e filhos, eu tinha de lidar com o facto de estar com cancro, mais concretamente com um carcinoma da parótida. Tive medo.

13 comentários:

Chainho disse...

Realmente... ouvir isso assim deve ter sido "um balde de água fria", nem imagino :(
Ainda bem que estás a contar a tua história em "flashback", porque assim sei como termina :)

Vanita disse...

Lembro-me tão bem destes dias. Felizmente, passaram e, no meu caso, aprendi a viver um dia de cada vez. Mas esta é uma luta que nos muda e transforma. Viver um drama destes com 26 ou 27 anos então, nem sequer tem explicação. Só quem passa por isso consegue entender completamente o que é. Um grande beijinho para ti :)

Tsuri disse...

Grande exemplo que és.
Quero saber tudo.

Unknown disse...

Que médica tão fria :/ A notícia dita assim ainda parece mais assustadora...

Queremos saber mais sobre a tua jornada, querida.

Beijinhos grandes e que bom que hoje em dia estás óptima!*

luarte disse...

Estou a acompanhar a tua história, como se não soubesse o desfecho. Obrigada por teres decidido partilhá-la.
Um beijinho de admiração para esse lado.

Imensidão dos dias disse...

Imagino que por momentos o teu coração tivesse parado, há noticias que devem ser dadas de forma mais humana. Obrigada pela partilha.

got milk disse...

Desculpa a minha ignorância mas as parótidas são chamadas de paratiroides não são? Porque eu fiz remoção da tiroide em tempos e afectou me as paratiróides e o cálcio no sangue mas se calhar não estamos a falar do mesmo. Vim ler e apesar do tema és um exemplo de esperança para muita gente. Olha um elogio da cabra! loll

Mrs Fane disse...

Obrigada a todos.:)

Cabra nazi, não, não tem nada a ver. Pelo menos que eu saiba.

♥Cat disse...

Li agora os posts todos desde o início e estou arrepiada.
Felizmente, nunca tive de lidar de perto com o cancro (e Deus queira que assim continue) mas estas histórias de luta e de vitória são exemplos qeu fazem bem à alma de todos os que anseiam por esperança.
Obrigada pela partilha.
Beijinhos!

Miscelânea disse...

Cabranazi, são glândulas diferentes. As paratireoides situam-se, por norma, perto da glândula tireoide e controlam o metabolismo do fósforo e do cálcio no sangue (actuam por isso no esqueleto, nos rins e no intestino). As glândulas parótidas são glândulas salivares, ou seja, produzem saliva, e encontram-se perto do ouvido e debaixo da maxila.

Eu defendo sempre que um médico deve ser tanto um bom profissional como ser humano. Uma notícia destas não pode ser dita dessa forma! :(

got milk disse...

Ah ok obrigada pelo esclarecimento ! ;)

Fiona disse...

Li todos os posts até este e é de realmente ficarmos a pensar como as coisas podem mudar tão depressa e de um momento para o outro. E essa médica... Sinceramente... Apenas me faz recordar a história que a minha mãe sempre conta sobre a médica que a acompanhava quando estava grávida de mim e da forma nua, crua e sem qualquer filtro como disse aos meus pais que, se a minha mãe não fosse internada de imediato na maternidade, tanto ela com eu iríamos morrer no momento do parto. Felizmente, estes exemplos não são a regra no mundo da medicina, um mundo onde todos deveriam ser o máximo de humanos.

Beijinho

Patrícia disse...

Olá,

até me vieram as lágrimas aos olhos, é sem dúvida uma mulher de armas e um exemplo a seguir.

os médicos são assim, frios até dizer chega, há quase 1 anos atrás tive um problema grave, não era C., mas algo que se não fosse intervencionada a tempo poderia morrer, e quando me foi diagnosticado, para além de estar sozinha, o médico perguntou-me se queria morrer, para além do facto de o marido não me poder acompanhar.

Um conselho nunca vá sozinha às consultas, porque às vezes leva-se com o balde de água fria e é sempre bom ter apoio.


Obrigada por ser um exemplo,

um beijo muito grande e muita força

Patrícia Fonseca